Eletroforese de Hemoglobina no Pré-Natal: Por que Solicitar e Como Interpretar?

1 de jul.
3 min de leitura

Ao longo da minha trajetória, percebi que muitos profissionais ainda têm dúvidas sobre quando e como solicitar esse exame, além das dificuldades de interpretar seus resultados de forma clínica e individualizada.

Por isso, preparei este artigo completo para você aprimorar seu atendimento e garantir mais segurança para gestantes e bebês.

O que é a Eletroforese de Hemoglobina?

A eletroforese de hemoglobina é um exame laboratorial que separa e identifica os diferentes tipos de hemoglobina presentes no sangue, utilizando uma corrente elétrica que faz com que essas moléculas migrem em velocidades distintas em um gel ou papel especial. Cada tipo de hemoglobina possui uma carga elétrica diferente, resultando em padrões específicos que podem ser analisados e quantificados.

Por que Solicitar a Eletroforese de Hemoglobina no Pré-Natal?

Solicitar a eletroforese de hemoglobina na rotina do pré-natal é fundamental, pois permite o diagnóstico precoce de hemoglobinopatias — alterações genéticas nas hemoglobinas, como talassemia e anemia falciforme. Essas condições, quando não identificadas, podem trazer riscos maternos e fetais significativos, incluindo maior risco de infecções, complicações obstétricas e restrição de crescimento fetal.

Estudos mostram que a prevalência de hemoglobinopatias em gestantes pode chegar a 10% em algumas populações, reforçando a importância do rastreamento universal.

Principais Hemoglobinopatias Detectadas

Talassemia alfa e beta
Anemia falciforme
Doença da hemoglobina S-C
Traço falciforme

Cada uma dessas alterações pode impactar de forma diferente a gestação, exigindo condutas específicas e, muitas vezes, acompanhamento multidisciplinar.

Como é Feito o Exame?

O exame é realizado a partir de uma amostra de sangue venoso, coletada em tubo com anticoagulante. No laboratório, os glóbulos vermelhos são rompidos para liberar a hemoglobina, que é então submetida à eletroforese em gel ou papel. A separação das bandas permite identificar e quantificar os diferentes tipos de hemoglobina presentes.

Interpretação dos Resultados

Os valores normais de hemoglobina em adultos são, geralmente:

Hemoglobina A (HbA): 95-98%
Hemoglobina A2 (HbA2): 2-3%
Hemoglobina F (HbF): até 2%

A presença ou aumento de hemoglobinas variantes (como HbS, HbC, HbE) pode indicar traços ou doenças genéticas. Porém, nem toda alteração configura doença: é fundamental diferenciar traços (heterozigose) de doenças (homozigose ou duplas heterozigoses), evitando diagnósticos equivocados e ansiedade desnecessária para a gestante.

Condutas Após a Identificação de Alterações

Ao identificar uma alteração, o passo seguinte é encaminhar a gestante para aconselhamento genético e avaliação multidisciplinar. Isso garante que ela e sua família recebam informações adequadas sobre riscos, prognóstico e possíveis impactos para o bebê.

Impacto Clínico das Hemoglobinopatias na Gestação

Gestantes com hemoglobinopatias, especialmente anemia falciforme, têm maior risco de:

Infecções maternas
Síndrome torácica aguda
Tromboembolismo
Complicações fetais, como restrição de crescimento e morte fetal (em casos graves de alfatalassemia)

O diagnóstico precoce permite intervenções específicas, como acompanhamento mais próximo, prevenção de complicações e planejamento do parto.

Solicitar e saber interpretar a eletroforese de hemoglobina no pré-natal é um diferencial na prática clínica. Esse exame simples pode mudar o curso da gestação, proporcionando mais segurança para mãe e bebê. Lembre-se: interpretar exames vai além dos valores de referência; é preciso correlacionar com a clínica e personalizar o cuidado.

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